
Nos primeiros meses de 2015, a rede social criada por Mark Zuckerberg lançou um recurso chamado “Neste dia”. A função é simples: traz aos usuários os posts feitos por eles naquela determinada data em anos anteriores. Pela função nostálgica que tem esta aplicação, poderia também ser chamada de “baú de recordações do Facebook”.
No seu início, o “Neste dia” não me despertou muito interesse, achava bacana ver o que havia comentado ou acontecido comigo em anos anteriores. Às vezes, salvava alguma foto antiga que o Facebook mostrava, mas era só. Entretanto, de alguns meses para cá, este recurso tem despertado outros sentimentos em mim. E quanto mais antiga é a viagem que o Facebook faz, mais surpresa eu fico.
Surpresa porque percebo que muitas coisas que postava ou que vivi naqueles quatro, cinco anos atrás tem pouco ou nada mais a ver com a minha vida atual. Por isso, checar as minhas memórias facebookianas passou a ser um hábito. Comparar alguns pensamentos, verificar os eventos que participava, perceber a minha reação diante de acontecimentos mundiais. Existem coisas em mim que continuam iguais, mas há muitas que mudaram. Isso não quer dizer que seja bom ou ruim. É um indicativo dos processos de transformações que passo, aliás, de que todo nós passamos. Uma das condições primordiais para a nossa evolução é de que a gente mude, nos transformemos, que a gente saia do casulo.
Aconselho a todos fazer este tipo de experimento, pelo menos por um período. Analisar o seu comportamento, opiniões e pensamentos de anos atrás e comparar com os de hoje. É um exercício enriquecedor. Às vezes, a gente tem aquela sensação de que a nossa vida está estagnada, de que os dias são todos iguais, que estamos sendo sugados por uma rotina estressante. Mas, se olharmos bem, a vida continua em movimento. Talvez sejam movimentos lentos e silenciosos, mas, mesmo assim, movimentos que nos transformam, nos modificam.
“Só o que está morto não muda!”, já dizia o autor Edson Marques, no poema “Mude”, que ficou bastante conhecido como faixa do CD Filtro Solar, de Pedro Bial. No final das contas, o que constatei com o “Neste dia” é que, mesmo sem perceber, eu continuei caminhando, que movimento e mudanças são características do ser humano e que não temos vocação para ficarmos estacionados. Quando acharem que não possuem força o suficiente para mudar determinada situação, lembrem-se de que neste mesmo poema nos é aconselhado a começar devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade. É por isso que quando sabemos o que queremos e para onde estamos indo, os movimentos da vida se encarregam do resto.
Duvidam disso? As suas memórias facebookianas estão aí e não me deixam mentir...
(Clique aqui para ouvir o poema “Mude” na voz de Simone Spoladore)