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Abrace sua vulnerabilidade

Eu adoro abraçar, gosto de abraçar de verdade, envolver a pessoa em meus braços e ser envolvida de volta. Mesmo que o gesto dure apenas dez segundos, algumas das sensações que surgem a partir disso podem durar por muito tempo. Tenho uma coleção de sensações assim.

Outra ação que faz muito bem é abraçar uma causa. Engajar-se, envolver-se, doar-se para um determinado propósito nos faz movimentar bastante energia. O ato de abraçar é carregado de simbolismo, essa prática nos remete a um gesto de carinho, cuidado, solidariedade, afeto e, em muitos casos, amor.


O que eu percebo é que muitas vezes, esquecemos de abraçar determinadas coisas que existem dentro de nós. Por exemplo, as nossas fragilidades. Em vez de sermos compreensíveis, afetuosos e solidários com aquilo que identificamos ser uma indicação das nossas vulnerabilidades, boa parte de nós tratamos de fingir que elas não existem ou tentarmos a todo custo corrigir esses “defeitos”.

O grande problema em agir de alguma destas duas formas é que acabamos perdendo muito tempo pondo foco e energia onde não deveríamos e, assim, desperdiçamos oportunidades de desenvolvermos ao máximo o potencial daquilo em que somos incrivelmente bons. Fingir que não temos imperfeições e vulnerabilidades é insanidade. Imagine a quantidade de chances que perdemos de ir além pelo receio de se expor e pela preocupação de não sermos bem-sucedidos.


Por outro lado, existe a ilusão de que podemos controlar, nos antecipar às situações e programar para que as coisas saiam do nosso jeito e da forma mais perfeita possível. Porém, se não erramos, continuaremos com as nossas vulnerabilidades, bem guardadinhas embaixo do tapete, se acumulando até o momento em que não há mais espaço para escondê-las. Uma rotina centrada em não errar produz tanta ansiedade que pode causar problemas de saúde, inclusive.


Eu sei… Muitos de nós já tentamos e o resultado não foi o esperado, aliás, já tentamos várias vezes e de diferentes formas. Talvez, em grande parte dos casos, tenhamos sidos julgados principalmente por nós mesmos, gerando a ideia de que não somos bons o bastante naquilo que nos propomos a fazer. Esse julgamento pode surgir no momento em que constatamos que não cumprimos nem por uma semana a promessa de mantermos o regime ou quando aquela vaga que tanto queríamos na empresa é preenchida por outra pessoa.


Não estou dizendo que é fácil se expor, pelo contrário, se fosse, não teríamos nenhuma dificuldade em ABRAÇAR aquilo que consideramos fraquezas em nós mesmos. São legítimos os mecanismos de defesa que criamos para fugir de situações que nos trazem esse tipo de sentimento de não sermos bons o suficiente. Porém, quando aceitamos a existência das nossas fragilidades e as acolhemos de forma afetuosa e solidária, o conflito interno diminui. Conseguimos, então, enxergar uma forma (ou várias) de lidarmos com elas e nos concentrarmos naquilo que irá nos fazer seguir adiante: as nossas qualidades.


A gente deixa de experimentar coisas novas, de desenvolvermos nossas habilidades porque existe um diabinho sentado em um dos nossos ombros sussurrando ao pé do ouvido frases que nos fazem duvidar da nossa própria capacidade. O pior é que o escutamos… Pode dar certo, pode dar errado, pode dar “n” resultados diferentes, mas acredite, não vai dar em nada se estivermos empacados buscando uma forma de sermos perfeitos em tudo, isso nos fará perder de vista o que de fato queremos.


Posso estar enganada, no entanto percebo que temos uma tendência a focar muito mais naquelas habilidades que nos faltam do que potencializar aquilo que fazemos tão bem. O equilíbrio é importante, porém, sabermos escolher o que precisamos fazer e, principalmente, o que precisamos abdicar para atingirmos o nosso propósito, não deixa de ser uma boa estratégia. Conheço uma pessoa que odeia usar transporte público e por isso está juntando dinheiro para comprar um carro. Mas não pode ser qualquer um, precisa ser o modelo SUV do ano com câmbio automático. Enquanto economiza dinheiro para comprar o automóvel dos sonhos, o objetivo de se livrar do transporte público, quem sabe, já não poderia ter sido resolvido com a compra de um carro inferior com o dinheiro que guardou. Sem falar naqueles que desistem porque acham que nunca vão conseguir atingir a soma de dinheiro necessária para o tal veículo, então acabam gastando o dinheiro com coisas efêmeras.


O exemplo acima serve para mostrar que fazemos as mesmas coisas com as nossas qualidades. Quantas vezes deixamos de iniciar um projeto que queremos muito só porque achamos que não reunimos todas as habilidades necessárias para tal? Em vez de pensar dessa forma, foque naquelas habilidades que você já tem, naquilo que vai te impulsionar e use como trampolim. Se você está percebendo que não consegue fazer tudo ao mesmo tempo e que isso está o impactando a atingir o objetivo, não tenha medo de abrir mão de algumas escolhas e siga seu caminho com aquelas ferramentas que você sabe usar melhor.


Abrace bem forte a sua vulnerabilidade e diga a ela que está tudo bem. Não a ignore, aceite-a como parte de quem você. É provável que você comece a fazer de uma forma ainda melhor aquilo que já faz bem.


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